A suplementação energética de vacas no terço inicial de lactação otimiza a produção de leite e permite a rápida recuperação da condição corporal.
O incremento na produção de leite por vaca dia ocasiona em uma maior demanda energética por parte dos animais, uma vaca produzindo 45 kg de leite no pico de lactação necessita de aproximadamente 4,6 vezes mais energia para produção de leite do que a necessária para sua manutenção. Essa situação se agrava no terço inicial da lactação, quando o aumento na produção de leite não é acompanhado pela ingestão de matéria seca, acarretando em um balanço energético negativo, evidenciado pela queda no escore de condição corporal.
Como estratégia para reduzir esses efeitos negativos, o adensamento energético das dietas fornecidas às vacas no terço inicial de lactação com a utilização de lipídeos é uma alternativa bastante explorada, principalmente no que diz respeito ao uso das chamadas gorduras protegidas. Recentes revisões de trabalhos indicam que a incorporação de gordura na dieta de vacas a níveis de 1,5% da matéria seca, implica em um aumento na produção de leite em mais de 2kg sem diminuição no consumo de matéria seca, fato que possibilita concluir que a adição de gordura aumenta a eficiência produtiva.
Entretanto, a utilização de gorduras na dieta, dependendo da fonte, pode ocasionar respostas negativas em termos de fermentação ruminal e somado a isso a digestibilidade dessas fontes no intestino normalmente fica na casa dos 78%. Neste sentido, diversas pesquisas vêm sendo desenvolvidas com intuito de encontrar métodos que possibilitem a maior inclusão de lipídeos nas dietas e que possibilitem incrementos na digestibilidade intestinal, sem alterar negativamente os parâmetros de fermentação do rúmen, com maior eficiência produtiva.
Uma das alternativas utilizadas para contornar os efeitos negativos da suplementação com gordura é a utilização de sais de cálcio, que são produzidos a partir da hidrólise de diferentes óleos vegetais e posterior associação com o cálcio, comumente chamado de gordura protegida, que permite que passem de maneira inerte pelo rúmen. Apesar dessa recomendação geral, o grau de dissociação destes sais é variável em função da fonte utilizada, quanto maior o número de insaturações, menor a estabilidade.
Trabalhos realizados na ESALQ/USP registraram valores superiores para produção de leite e digestibilidade aparente da matéria seca nas vacas que receberam sais de cálcio de ácidos graxos do óleo de palma (SCOP) em comparação aos sais de cálcio com ácidos graxos com óleo de soja (SCOS). Os resultados podem ser explicados pelo fato de que os SCOS possuem grande quantidade de ácidos graxos insaturados, que em pH 6,0 encontram-se com 58% de dissociação, ou seja mais livres no rúmen. Dessa maneira, como esse valor de pH é comumente encontrado no rúmen imediatamente após a alimentação com concentrados, uma boa parte dos SCOS estão dissociados, acarretando em prejuízos no desempenho das vacas. Entretanto, os SCOP apresentam em sua constituição uma maior proporção de ácidos graxos saturados, denotando cerca de 20% de dissociação em pH 6,0, garantindo, dessa forma, maior estabilidade no rúmen.
Com o objetivo de potencializar os efeitos positivos dos lipídeos na dieta de vacas leiteiras, mais recentemente tem sido estudado o uso de emulsificantes na alimentação de ruminantes, dentre eles a lisolecitina.
A importância da utilização de lisolecitina na dieta de animais está pautada no fato de que, para que ocorra a absorção de ácidos graxos provenientes da dieta, pelo animal, é necessária a formação de micelas. Como a lisolecitina possui uma grande capacidade emulsificante, formando juntamente com os ácidos graxos, a estrutura micelar, permitindo assim absorção de ácidos graxos pelas células do epitélio intestinal para transporte na corrente sanguínea. Além, de diminuir a interação dos lipídios com outros constituintes da dieta no rúmen.
Pensando em unir a proteção ruminal com o aumento potencial na digestibilidade a Kemin em parceria com a ESALQ/USP e apoio da FAPESP, avaliou a inclusão do EnerfatTM que contém sais de cálcio de ácidos graxos do óleo de palma, em conjunto com o LYSOFORTETM, que dentre outros surfactantes contém lisolecitina ativada.
O objetivo foi identificar se essa associação entre os sais de cálcio de ácidos graxos do óleo de palma e a lisolecitina potencializa a absorção de ácidos graxos e assim influência a resposta produtiva. No experimento foram comparados três níveis de inclusão de EnerfatTM suplementados com LYSOFORTETM 280, 340 e 400g, comparados a um tratamento controle com a inclusão de 400g de EnerfatTM puro.
Os resultados preliminares apresentados no gráfico a baixo (dados ainda não publicados), sugerem que qualquer um dos níveis de inclusão do LYSOFORTETM, aumentou a eficiência produtiva dos animais quando comparado ao controle. Podendo reduzir em até 30% a inclusão total de gordura na dieta sem afetar a produção de leite das vacas.